1. A imprensa independente angolana nunca foi tão importante para a incipiente democracia como agora, principalmente, quando as bolsas da oposição, encabeçados pelos líderes, adormecem ante a cavalgada do novo inquilino da Cidade Alta.
Por William Tonet
João Lourenço com algumas medidas ousadas (paliativas – exonerações), um discurso de aparente rigor, hasteando a bandeira da luta contra a corrupção, mais se parece um outsider do regime (qual lobo com pele de cordeiro), prometendo combater os ladrões, mas logo depois, amnistiando-os se, de livre e espontânea vontade, devolverem umas migalhas a quem descarada e impunemente roubaram (os mais de 20 milhões de autóctones pobres).
E, na incógnita “esquina repatriativa de capitais”, que a muitos intriga, face às nuvens nebulosas, a máquina comunicacional do Presidente da República, tira mais uma da cartola, convocando a imprensa, toda a imprensa, inclusive os discriminados órgãos independentes (42 anos excluídos) e a estrangeira, não se sabendo se a SIC, a Visão, o Público e o Expresso incluídos, para a primeira conferência de imprensa colectiva de João Lourenço.
Sem se saber ainda o figurino, muitos, entre nós, rejubilam, quando deveriam perguntar: “Porquê só agora”?
É natural ou artificial?
Verdade ou mentira, tudo incrimina… a julgar pelo comportamento, durante a caminhada como cabeça-de-lista e candidato à Presidência da República, onde os jornalistas independentes, na única conferência que concedeu, na sede do seu partido, foram copiosamente excluídos.
Ainda assim, na nossa magnanimidade ou masoquismo, facilmente aplaudimos a velha máxima: “Mais vale tarde do que nunca”, mesmo sendo a pista verdadeiramente escorregadia, nesta fase conturbada de passagem de testemunho.
Sendo a prudência a fiel aliada do “jornalista excluído e discriminado”, não se atenta contra a democracia se com a frieza, que o momento exige, analisarmos a dimensão deste gesto que, diga-se, positivo e relevante, se visar romper, definitivamente, com o paradigma anterior.
Mas, em boa verdade, o conjunto de críticas sobre a existência de filhos e enteados, na imprensa angolana, terá ajudado e bem, o gabinete de imprensa do novo Presidente da República, a escancarar as portas do palácio à classe, numa altura em que se aguçam as querelas internas no partido (MPLA) que suporta o governo.
Recorde-se, em política não há coincidências e este namoro à imprensa independente não é inocente pois, num clima de tensão política, ter os jornalistas do seu lado é uma opção inteligente, por o inverso comprometer qualquer estratégia, vide o caso do PAIGC, na Guiné Bissau que, ainda recentemente, retirou apoio ao seu dirigente e actual Presidente da República, Mário Vaz, por desavenças com o presidente do partido, Domingos Simões Pereira, inviabilizando o governo de tendência presidencial.
Pese o acima vertido, é inquestionável estar João Lourenço a granjear mais simpatia do que José Eduardo dos Santos junto da tribo dos “internautas”, que da maioria da “população sem luz e celular”, confrontada ainda com a falta de esperança para inverter a extrema pobreza, o desemprego, a inflação, a fome e todas as demais mazelas, inerentes a um regime que se habituou a governar para o seu umbigo e nunca para o cidadão, que agora tem de pagar a factura da roubalheira de todos estes anos.
2. Havia decidido não falar sobre a conferência de imprensa da equipa económica do Titular do Poder Executivo pois, de acordo com a Constituição, todos estes ilustres senhores; ministros e governadores, são auxiliares. E, nessa condição de suplentes, não renderam o que deles se esperava, salvo algumas excepções. Foi um desastre. A equipa económica mais parecia um grupo de meninos desconhecidos reunidos, à pressa, para falar sobre um tema, que lhes era, totalmente desconhecido. Decepcionante.
Um economista não pode vir junto do público dizer que está calor. Não é sua tarefa, pois a ele se exige, que diga estar 38 graus, competindo ao receptor determinar se isso significa calor ou frio.
Em economia, uma política é uma acção de impacto, com gráficos, números, previsões e metas a alcançar a curto, médio e longo prazo e não uma oratória de filosófica.
Manuel Júnior, coordenador da equipa, enquanto ministro de Estado, poderia ter sido mais assertivo, se não exagerasse na carga teórica.
O governador do BNA, José de Lima Massano, teve um desempenho mais ou menos razoável, pese o cepticismo criado no mercado, ao lançar a desordem cambial, desvalorizando, sejamos coerentes, o Kwanza, com outra linguagem: depreciação, que desemboca, precisamente no mesmo, passando agora o dólar a ser determinado pelo mercado. Terá o BNA pedalada para esta engenharia?
Quanto ao ministro das Finanças, o seu desempenho foi sofrível, baralhou, baralhou-se e disse uma mão cheia de nada, qual aritmética divorciada dos números básicos.
Em linhas gerais, o programa económico, apresenta um elevado peso das despesas de funcionamento, com os indicadores mais recentes a indicarem que as receitas fiscais não petrolíferas têm sido absorvidas na totalidade pelas despesas ligadas à folha salarial. E, quando se esperava uma explicação, a equipa não disse que políticas concretas poderão reverter este burilado quadro.
O economista Fonga Pungulu, em relação ao endividamento disse ao F8 que “a dívida pública que representava menos de 30% do PIB, em 2013, ascendeu rapidamente, tendo ultrapassado os 60% do PIB, em 2016, para 2017 a dívida representou mais de 66 %, quando o nível máximo aceitável é 60% do PIB”.
Como se pode depreender, o caso do desnorte da economia de Angola face às políticas de má gestão económica, roubo do erário público e corrupção institucional, ultrapassa este limite, convertendo-se em endividamentos insustentáveis.
Havendo essa constatação, quais são as políticas concretas para tornar a dívida pública sustentável e não perigar as gerações futuras? Ninguém sabe. Ninguém ouviu.
Por outro lado, o défice público, para ser sustentável deve ser igual ou inferior a 3% do PIB, ora o défice, em 2016, foi de 3,7% do PIB, sendo a estimativa para 2017, de 4,4% .
A equipa económica falou da redução do défice, conjugado com a redução da taxa de juro para tornar os investimentos competitivos. Concretamente o que significa isso?
A equipa económica deveria esmiuçar as políticas, tendo em conta as prioridades, quantificando exactamente as acções e os respectivos impactos, não o tendo feito, até para quem é leigo, o plano apresentado parece-me “multi-task” (muitas tarefas, sem prioridade, num rolo de papel), tendo em conta que algumas políticas podem anular as outras, tendo em conta a magnitude dos impactos da sua implantação e desvario.
A continuar como estão as coisas, Angola caminha para um abismo sem fundo. Sem reformas sérias duvido que o país saia da crise nos próximos 5 anos, e volte a atrair a atenção de investidores internacionais. Está-se mal mesmo.